João Oba-Kuna, prazer

            — Quem é você? — disse a vida.

Prazer, sou João por parte de batismo, Oba-Kuna pelo rebatismo sacana dos colegas de candomblé. É isso mesmo, segundo pai Zeca, que deu esse apelido, digamos que carinhoso, numa cerimônia de orunkó dionisiano. Foi numa tarde de risadas e jogada de verdades na cara que terminou em um veredito: falhei.  

Por ironia daquele batismo em tom de brincadeira na beira de um bar, com um copo de cerveja como líquido batismal tornei-me o que sou hoje. Tendo nome e sobrenome que a partir desse dia moldaram o que sou. 

O rei falhou, é a tradução desse nome yoruba e como passe de mágica da vida, o que era uma sacanagem de bar, virou real. Como que é a vida, num passe de mágica filhadaputa disse: “Sacaneei mais um otário, hahaha — disse mais uma vez a vida ao mesmo tempo que sarrou de uma forma fodástica”.

Fracassei.

Agora estou aqui após vários copos depois daquele fatídico dia que nunca se calou. Foram gritos internos. “Fracassei. Fracassei, porra. Você é um otário mesmo” E desse dia em diante passei a procurar o motivo desse sentimento e volto para minha mãe dizendo?

— Você é meu rei, meu amor 

Esse rei ecoou para sempre dentro de mim. 

João você é isso. João você é aquilo.

Passou anos e nada, minha vida foi indo sem nada muito majestoso. Uma vida com pouco sal, cheio de nada, em vários fatos sonso que em nada tem daquelas profecias materna.

Mãe errou. Deve ter algo escrito, aquelas letras miúdas de contrato onde diz: por motivo tal no inciso primeiro que regulamenta os cuidados das mães, elas podem errar nas seguintes condições. É isso. Só pode ser isso.

Já não sou herói. A vida mostrou o tanto de carne que meus sonhos mostravam ser de ferro, um aço mais duro que adamantium — imaginava eu. A cada dia foi piorando a partir de meus inúmeros relacionamentos que mostraram que fracassei como homem. Ainda bem que mãe foi embora sem saber que não sou o rei que ela tanto dizia.

Mas esse papo não é sobre o fracasso, é o fracasso. Não é o fracasso como coisas que fracassei. Poderia, é claro, escrever para sempre dos meus fracassos. Deixo de lado esses fracassos e vou em outro detalhe que fiz para sobreviver dessa porra toda e conseguir respirar. 

O que eu faço?

Eu minto.

Minto para viver. 

Minto para me encontrar.

Minto para ser eu

Minto para respirar

E como minto, até mesmo para mim mesmo, na maior cara de pau. Como se a mentira fosse um alimento para existir.

Na verdade, a vida foi como uma brochada. Sou o rei da vacilação. Pode crer, vou contar nas próximas mal contadas linhas como foi o início do fim. Não de forma cronologia. Escreverei displicente, de qualquer forma. Como gosto de dizer: vomitado mesmo.

Pode ser mentira? Sim, não dou como verdade nem a mim mesmo. Mas, se quiser, pega sua breja gelada. Vamos bater um papo de bar. Papo de qualquer coisa, qualquer assunto. Só jogando conversa fora

Bora?


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